REVISTA DO TRIBUNAL DE CONTAS
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NOTA DE ABERTURA

Filipa Urbano Calvão

Diretora da Revista

Na presente edição da Revista do Tribunal de Contas apresentamos três estudos de grande importância que abordam temas de evidente atualidade.

Com efeito, no espaço dedicado a artigos científicos e técnicos, o n.º 9 da Revista divulga um estudo que se debruça sobre a legitimidade democrática do Banco Central Europeu (BCE). Com o título “Breves considerações sobre a Independência e Legitimidade do Banco Central Europeu” o estudo analisa o papel do BCE no âmbito da União Económica e Monetária, com foco no seu mandato, independência e legitimação democrática. Inicia-se com uma contextualização histórica e institucional do Banco, explorando-se, em seguida, a sua independência política como elemento central do seu desenho institucional, comparando modelos de bancos centrais, especialmente o anglo-francês e o alemão, sendo este último o mais influente na configuração do BCE. Por fim, o estudo examina a legitimidade democrática da instituição, destacando a importância da transparência e da prestação de contas como mecanismos essenciais de responsabilização.

No artigo “O papel inovador das Instituições Superiores de Controle (ISC) na prevenção da fraude e da corrupção: onde estava o auditor?” a autora aborda o papel das Instituições Superiores de Controlo financeiro externo na promoção da integridade e na prevenção da fraude e da corrupção no setor público. Inicialmente, destaca-se a importância das ISC no reforço da confiança nas instituições públicas, enfatizando a sua função fiscalizadora e preventiva. Analisa-se o contributo destas instituições para promover uma cultura de integridade, bem como a sua cooperação com entidades especializadas no combate à corrupção.

O estudo também explora a especificidade das ISC com competências jurisdicionais e o seu papel na auditoria de sistemas de integridade, estratégias e medidas anticorrupção. Abordam-se ainda aspetos metodológicos relevantes para a auditoria e o controlo externo, bem como a importância da utilização de ferramentas digitais, incluindo de inteligência artificial, quer para potenciar o papel das ICS no cumprimento das suas atribuições, quer para avaliar os riscos criados pelo uso destes sistemas pelas entidades públicas.

No terceiro estudo, “Controlo financeiro, jurisdição e responsabilidade nos países de língua oficial portuguesa”, efetua-se uma análise do papel dos Tribunais de Contas nos países de língua oficial portuguesa na fiscalização das contas públicas e no apuramento de responsabilidades financeiras. O trabalho faz uma análise comparada dos quadros legais que regulam a dimensão jurisdicional desses Tribunais, com foco no apuramento e julgamento das responsabilidades financeiras, conforme os enquadramentos constitucionais e supraconstitucionais vigentes.

Na presente edição da Revista do Tribunal de Contas procede-se ainda à divulgação de parte da atividade do Tribunal no 1.º semestre de 2025, nas diversas Secções da Sede e nas Secções Regionais dos Açores e da Madeira. Dada a sua dimensão e diversidade, foi feita uma seleção da que se considerou mais relevante, convidando-se o leitor para pesquisar outros atos do Tribunal em matérias que despertem o seu interesse.

De seguida, divulgam-se dois documentos do Tribunal de Contas Europeu: o Relatório Especial n.º 9/2025, sobre os sistemas destinados a assegurar a conformidade das despesas do Mecanismo de Recuperação e Resiliência (MRR) com as regras em matéria de contratação pública e de auxílios estatais, e o Documento de Análise n.º 2/2025, no qual se sintetizam as principais observações sobre o MRR realizadas pelo TCE.

Ainda no capítulo “Jurisprudência e Relatórios de Outros Tribunais e Pareceres da Procuradoria-Geral da República” difunde-se o Parecer n.º 31/2024 da Procuradoria-Geral da República, sobre a inadmissibilidade de suspensão retroativa das funções anteriormente exercidas por ex-membros do Governo.

Procede-se, ainda, à publicação de várias notícias da atualidade sobre temáticas relevantes no domínio dos Tribunais de Contas e Instituições congéneres, com destaque para o Relatório de Atividades do Tribunal de Contas relativo ao ano 2024.

Encerra-se esta edição com a apresentação de um artigo sobre a transformação do Campo Grande como espaço de parque público, começado a executar na sequência do decreto do príncipe regente D. João, futuro D. João VI, escrito com base na documentação do Arquivo Histórico do Tribunal de Contas.

Concluo com o apelo aos nossos leitores para que submetam artigos com vista à sua publicação nesta Revista.